Em cena: críticas de Ken Loach ao Neoliberalismo

Compartilhar

O ensaio analisa três filmes do cineasta britânico Ken Loach – “Espírito de 45” (2013), “Eu, Daniel Blake” (2016) e “Você Não Estava Aqui” (2019) – que podem ser lidos como uma trilogia sobre a ascensão e queda do estado de bem-estar social no Reino Unido.  Os autores argumentam que, por um lado, as três obras têm o mérito de nos ajudar a fazer sentido dos efeitos do neoliberalismo sobre redes de proteção social, condições de trabalho e corpos e mentes de uma classe trabalhadora crescentemente precarizada e desmoralizada. Por outro lado, apontam para os silêncios da trilogia, aquilo que ela não mostra, mas que é crucial se quisermos entender porque grande parte da classe trabalhadora britânica, precarizada e ressentida após 40 anos de neoliberalismo, manifestou sua insatisfação votando a favor da saída do Reino Unido da União Europeia, atraída por uma campanha com tons nacionalistas e xenófobos, e não pelo espírito socialista que anima Ken Loach. Dentre os silêncios mais notórios e consequenciais, estão as hierarquias raciais no Reino Unido. Ao retratar a classe trabalhadora britânica como predominantemente branca e preocupada quase que exclusivamente com a deterioração das suas condições materiais de vida, os filmes se tornam incapazes de capturar outras perdas sofridas por essa classe; perdas essas que compõem a complexa atmosfera afetiva que culminou no voto a favor do Brexit. 

Artigo assinado pela professora Paula Sandrin em conjunto com Francisco Veras (ex-PIBIC/IRI) e Rachel Pires do Rego (ex aluna IRI) e que fez as artes que ilustram o ensaio. O ensaio foi publicado na edição 96 da revista Insight Inteligência.

Tags

BrexitCinemaClasseNacionalismoNeoliberalismoPrecarizaçãoTrabalhoXenofobia