O Instituto de Relações Internacionais (IRI/PUC-Rio) realizou, entre os dias 4 e 6 de Setembro, o seminário Modalidades de Guerra no Cotidiano: a circulação de práticas de segurança em perspectiva local e global.
Diante de um quadro cada vez mais marcado por índices preocupantes de violência urbana, a intensificação do poder de fogo e o aprimoramento tático da força pública são reivindicados como necessidades políticas incontornáveis em nosso período contemporâneo, este evento inseriu-se nesse contexto e buscou estimular discussões sobre a forma com que modalidades de guerra estão presentes em nosso cotidiano, bem como os efeitos dessa presença.
Para tal, o Seminário reuniu acadêmicos internacionais especializados em estudos sobre as transformações da guerra. Os participantes foram mobilizados em debates estruturados em três eixos principais. No primeiro, os painelistas buscaram localizar o Rio de Janeiro nas transformações históricas da violência e no mapa da circulação global de modalidades de guerra. Já o segundo eixo voltou-se à investigação dos efeitos locais da circulação de modalidades de guerra, bem como à reflexão sobre a manifestação cotidiana da presença dessas formas de guerra. Por fim, os participantes foram encorajados a se debruçar sobre os painéis dos dias anteriores e analisarem as implicações desses debates para o repertório teórico-conceitual no campo dos Estudos de Segurança, bem como para a forma com que entendemos o problema da militarização e o lugar do Sul Global – mais especificamente, do Rio de Janeiro – nessa seara.
CONFIRA ABAIXO OS REGISTROS DAS MESAS
Painel 1:
O Seminário Internacional teve início em 4 de setembro, com o painel “As estruturas da guerra: modernidade, capitalismo, violência e suas transformações na política contemporânea”, com a participação de Matt Davies (New Castle, IRI PUC Rio), Marildo Menegat (NEPP-DH, UFRJ) e Philippe Bonditti (Université Catholique de Lille), sob a moderacão da Professora Monica Herz (IRI PUC-Rio). Buscando contribuir para as reflexões sobre circulação global de modalidades de guerra e suas configurações locais, os participantes deste painel exploraram os elementos estruturantes dessas dinâmicas. Dito de outro modo, como modalidades de guerra são estruturadas global e localmente? Que condições históricas estão ligadas às transformações da estruturação de modalidades de guerra? De que forma as transformações históricas na circulação de modalidades de guerra estão ligadas a rearticulações da violência na política internacional?
Painel 2:
Em seguida, Anna Leander (IRI PUC Rio; Graduate Institute of Geneva), Monica Herz (IRI/PUC Rio) e Paulo Pereira (PUC SP) integraram o painel “As circulações globais de modalidades de guerra”, com a moderação de Jana Tabak (UERJ). Nessa ocasião, os participantes refletiram sobre as formas e os efeitos concretos de modalidades de guerra no período contemporâneo, discutindo as articulações discursivas e mecanismos por meio dos quais tais práticas circulam globalmente e explorando os contrastes e/ou conexões entre modalidades de guerra e processos globais de reorganização da violência.
Painel 3:
Marcia Leite (UERJ), Bruno Cardoso (UFRJ) e Arlene Tickner (Universidad del Rosario) iniciaram os trabalhos no segundo dia do Seminário (5 de setembro), com o painel “O global é aqui: crise e configurações locais de modalidades de guerra”, com a moderação de Manuela Trindade Viana (IRI PUC-Rio). Aqui, a cidade foi o palco central dos debates. Partindo da provocação de que a mobilização da ideia de “crise” tem catalisado e aprofundado práticas de vigilância, controle, poder de fogo e proteção humanitária em diversas cidades do mundo, os participantes deste painel discutiram aspectos como formas concretas que modalidades de guerra adquirem em locais específicos; como o discurso de “crise” afeta práticas de segurança pública no Sul Global; e as conexões e/ou contrastes entre essa mobilização da “crise” e a profusão de modalidades de guerra nas cidades.
Painel 4:
No quarto painel realizado, Jana Tabak (UERJ) buscou engajar Cynthia Enloe (Clark University), Victoria Basham (Cardiff University), e Vera Malaguti (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) em uma discussão sobre como as modalidades de guerra moldam nossas rotinas. Com o título “Normalização da violência cotidiana em defesa da sociedade”, as participantes do referido painel refletiram sobre os termos com base nos quais nós viemos a, tão frequentemente, normalizar a violência em defesa da sociedade em nosso cotidiano.
Painel 5:
O quinto e último painel do Seminário Internacional consistiu em uma mesa-redonda formada por Pinar Bilgin (Bilkent University), João Pontes Nogueira (IRI/PUC Rio) e Nivi Manchanda (Queen Mary University of London). Com estimulantes provocaçõesde Philippe Bonditti (Université Catholique de Lille), os participantes da mesa “Quão críticos são os estudos críticos de segurança?” foram sabatinados a respeito de suas visões sobre três temas: i) os limites da “criticalidade” e de conceitos-chave nos chamados “estudos críticos de segurança”; ii) os vícios analíticos resultantes da reprodução de perspectivas teóricas do Norte no Sul Global; e iii) como perspectivas teóricas do Sul Global podem contribuir para os estudos críticos de segurança em Relações Internacionais.