África em pauta: Tragédia na Líbia e golpes no Níger e Gabão

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O professor de História da África do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio (IRI/PUC-Rio), Alexandre dos Santos, concedeu uma entrevista para o Jornal da CBN a respeito das fortes chuvas que vêm atingindo a Líbia. O país, que atualmente é dividido em Líbia do Oeste e Líbia do Leste, foi palco de tragédias decorrentes de fortes chuvas e inundações que deixaram, pelo menos, mais de 11 mil mortos no território. De acordo com o professor, esse cenário é resultado da ausência de investimentos em infraestrutura na região.

Alexandre explica dizendo que, desde a destituição e o assassinato de Muammar Kadhafi em 2011, o país é controlado pelas forças nacionais líbias presentes na Líbia do Leste, ao mesmo tempo que sofre interferência da ONU e de potências ocidentais na parte ocidental de seu território, na Líbia do Oeste. Essa instabilidade política, segundo o professor, impediu que houvesse investimentos em infraestrutura na região, culminando numa maior dificuldade em lidar com os desastres que devastaram o país, especialmente os provocados pelo furacão e pelo rompimento de barragens próximas à cidade de Darna.

O professor esclarece, ainda, que as tragédias presenciadas no território líbio ganharam proporções mais drásticas graças à quantidade de água retesada na barragem que se rompeu. Alexandre explica que as barragens são normalmente construídas em cidades com regime de chuvas irregular, a fim de retesar água para plantio e para o consumo humano ao longo do ano. Entretanto, não foram resistentes à força e ao grande volume das chuvas, culminando no seu rompimento, na destruição da região e na morte de milhares de pessoas.

Ouça a entrevista completa clicando no link abaixo:

No dia 3 de setembro, o professor Alexandre também participou do programa GloboNews Internacional, no qual esclareceu questões acerca do recente golpe de Estado no Gabão. O golpe, que aconteceu no dia 30 de agosto deste ano, fez parte de um conjunto de derrubadas de governos ao longo do território africano, começando pela Guiné em 2021 e se espalhando por outros países, como Mali, Burkina Faso e Níger.

Alenxadre pontuou alguns fatores que facilitaram a ocorrência do golpe no Gabão, destacando a postura das Forças Armadas diante da alta insatisfação popular no país ao longo dos 60 anos de governo da família Bongo. O professor também comenta a evidente perda de prestígio francês dentro do continente africano, em especial em ex-colônias do país europeu. Essa perda, por outro lado, abre espaço para a influência de outras potências, como a Rússia e o Grupo Wagner.

Assista à entrevista completa no link abaixo:

Para o Canal Mais Afrika, Alexandre ofereceu um panorama histórico acerca do golpe de Estado do Níger, traçando as raízes no colonialismo francês, passando pela Primavera Árabe e chegando no sentimento de insatisfação com a ingerência do governo francês na região. Alexandre afirma que líderes africanos mais alinhados à França e ao Ocidente têm sofrido cada vez mais retaliação e perdendo prestígio, por conta do aumento da insatisfação com as desigualdades e hierarquias históricas acumuladas.

O professor também chama atenção para as questões geopolíticas da região do Sahel, que vem sofrendo alguns eventos climáticos e sendo dominada por grupos Jihadistas, interessados nas riquezas minerais da região, o que os coloca em embate com o governo francês.

Alexandre analisa as possíveis mudanças na ordem internacional, que podem influenciar esse cenário de instabilidade política e levantes no continente africano. A principal delas, além da presença da China nas últimas décadas, é o recente aumento da proximidade da Rússia, que tem procurado outras alternativas de relações geopolíticas frente às sanções sofridas pela guerra com a Ucrânia.

Assista à entrevista completa nos links abaixo:

No programa da TV 247 “Um tom de Resistência”, em um bate-papo com Ricardo Nêggo e Anicet Okinga, Alexandre explorou as relações entre os países africanos, em especial os que estão em contextos políticos conturbados como o Gabão e os países da África Ocidental, e a França, cada um em suas especificidades.

Sobre os golpes, o professor afirma que é necessário, nesses momentos de instabilidade política, uma pressão maior para que se estabeleçam prazos para a volta da democracia, isto é, prazos concretos com projetos de novas eleições e mandatos democraticamente eleitos. Alexandre também chama atenção para questões financeiras-monetárias envolvidas no processo de imperialismo francês, que persistem até hoje, assim como as questões geopolíticas envolvendo o urânio na região.

Por fim, Alexandre explica a importância das Forças Armadas e da juventude na região, que se fazem presentes em diversas camadas sociais e são um motor para as mudanças. Também ressalta a expressividade do Pan Africanismo como um palco para a cooperação entre os países do continente.

Assista à entrevista completa no link abaixo:

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