Turquia em Crise: o golpe frustrado e suas consequências e repercussões

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O IRI/PUC-Rio realizou o debate Turquia em Crise: o golpe frustrado, suas conseqüências e repercussões no dia 22 de setembro com a participação de Márcio Scalercio (IRI/PUC-Rio)Monique Sochaczewski (ECEME) e Paula Sandrin (IRI/PUC-Rio). O debate buscou oferecer um panorama sobre a situação política na Turquia após a tentativa de golpe militar  em julho deste ano, deixando mais de 200 mortos, 1000 feridos e 2.800 soldados presos. Também foi debatido a influência da tentativa de golpe na crise na Síria. Você pode assistir o VÍDEO DO DEBATE NA ÍNTEGRA NO CANAL DO IRI NO YOUTUBE.

A convidada Monique Sochaczewski deu uma breve introdução à história da Turquia e à identidade nacional deste país, que ela argumenta ser baseada numa imagem de ponte entre a Europa e a Ásia, entre o Islã e o Cristianismo, entre o Mar Negro e o Mediterrâneo. Ela buscou explicar os caminhos do golpe e as hipóteses para entender o que houve, mas deixando claro que não há provas cabais de nenhuma delas. A professora delineou as relações entre o Hizmet, um grupo acusado de ser responsável pelo golpe, e o governo turco do partido AKP, que eram mais próximas mas que nos últimos anos tem se deteriorado. Também falou sobre a batalha de narrativas, em que pelo menos 3 versões sobre a autoria do golpe vêm ganhando força: a de que os responsáveis eram os kemalistas; a de que os responsáveis eram os membros do Hizmet; e também a de que o golpe foi uma armação do governo para ganhar mais apoio popular.

Seguindo o debate, o professor Márcio Scalercio falou sobre como o desenrolar militar dos eventos na Síria são influenciados pelo golpe na Turquia, uma vez que a Turquia já posicionou-se contra o governo de Bashar Al-Asad e contra os curdos sírios. Somando-se a esses inimigos de longa data, há o Estado Islâmico, que é o pretexto para a intervenção turca no território sírio, segundo o professor, e o grupo que supostamente representa a Al-Qaeda na Síria, que é contra quem se direciona a ofensiva Escudo do Eufrates, que visa defender uma zona de 90km ao longo da fronteira sul da Turquia. Scalercio também lembrou que a ajuda aos civis ainda presentes em Aleppo é outro dos pretextos para a intervenção que usa de tropas terrestres. O professor ainda afirmou que um objetivo não declarado da operação é desestabilizar os curdos na Síria. Após isso, o professor passou a explicar as condições militares da situação da complicada e intrincada guerra civil síria, e o que a intervenção turca implica nela.

A professora Paula Sandrin falou sobre as reações do governo turco ao golpe, as reações da União Europeia a sobre as novas dinâmicas de relação entre o governo turco e a U.E.. Ela lembrou que houve, após o golpe, diversos expurgos em várias instituições militares turcas, como a polícia, exército, marinha, guarda costeira, entre outros. Além disso, a Turquia é acusada na Europa de articular uma repressão e perseguição aos seguidores de Fetuhllah Gulen, clérigo líder do Hizmet, mesmo fora de suas fronteiras, requisitando a extradição de acusados de serem seguidores de Gulen. Segundo a professora Sandrin, os líderes turcos acusaram a Europa de demorar muito a condenar o golpe em si, e quando o fizeram, teriam condenado a reação do governo turco ao golpe. As maiores preocupações da União Europeia foram a deterioração da condição democrática no país e como isso se refletiria na manutenção dos acordos que se referiam aos refugiados (que previam que a Turquia acolheria uma parte dos refugiados em troca de dinheiro) que chegam, em grande número, à Europa.