América Latina em tempos de pandemia: desigualdades, desenvolvimento e democracia

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25 Out
29 Out

A América Latina é uma das regiões do mundo mais afetada pela pandemia da Covid-19. A região, que já vinha experimentando baixas taxas de crescimento econômico desde o fim do ciclo de exportação de commodities (2004-2014), agora enfrenta, com o prolongamento da pandemia, grandes desafios econômicos, sociais e políticos. A crise da saúde exacerbou as desigualdades e a fragilidade dos sistemas sociais, além de colocar em xeque a economia e o emprego na região. A fome e a pobreza que, acreditávamos, estavam diminuindo, voltaram a aumentar. Muitos dos países da região já vivenciavam um processo de desaceleração da atividade econômica, assim como episódios de instabilidade e incerteza política derivada, em grande medida, do descontentamento diante dos altos níveis de desigualdade social e falta de transparência institucional. Agora, a pandemia da Covid-19 aprofunda tais crises e coloca à prova as instituições democráticas, dinâmicas sociais e as estruturas econômicas.


Um conjunto de importantes economistas da região, que se juntaram em torno do “Consenso Latino-Americano 2020”(1), estabeleceram os principais desafios estruturais das economias latino- americanas que foram acentuadas pela crise da Covid-19, e propuseram um conjunto de recomendações que têm por objetivo: a luta pelo desenvolvimento social e, em particular, pela redução da desigualdade; a diversificação produtiva e de exportação com conteúdo tecnológico crescente, apoiada por uma política de desenvolvimento produtivo; uma política macroeconômica e, em particular, finanças públicas sólidas com sistemas tributários progressivos; um firme compromisso com os acordos internacionais, incluindo os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, as agendas para combater a mudança climática e defender a biodiversidade; por fim, o fortalecimento das instituições públicas e, especialmente, um firme compromisso com a democracia(2).


Essas reflexões e recomendações nos inspiraram a organizar este seminário e refletir sobre a transição da América Latina para o mundo pós-pandêmico. Para superar esses múltiplos efeitos da pandemia, os países devem ser capazes de criar as condições para promover as transformações necessárias e cooperar, dentro e entre os países, e assim caminhar em direção a um mundo mais justo e sustentável.



Dentre inúmeros temas e questões relevantes, destacamos algumas questões que nos pareceram estratégicas e que representam os principais desafios da América Latina no mundo pós-pandemia:

  • Ameaças à democracia e desafios políticos: Que desafios se colocam para as democracias na região? Como compreender a ascensão de forças políticas de extrema-direita e novas forças de esquerda? Como compreender a crise de representação dos partidos tradicionais e quais os impactos dos protestos e manifestações em vários países da região? Como a reação dos Estados no enfrentamento da pandemia agravou, acentuou ou acelerou os atuais processos de reivindicação democrática nas ruas? Como a gestão da pandemia afetará o denso processo eleitoral nos próximos anos? Os governos serão responsabilizados por tal gestão?
  • Meio ambiente, extrativismo e desenvolvimento: Como compreender os atuais retrocessos nas políticas e práticas ambientais na América Latina? Quais são os efeitos das mudanças climáticas na região e quais são os compromissos dos diferentes países na agenda do clima? Quais as oportunidades e os riscos que surgem com o aprofundamento da matriz extrativista e com novo “boom das commodities” que se apresenta? Como se caracterizam as lutas e resistências nos territórios?
  • América Latina entre China e EUA: novas configurações da ordem mundial: Que lugar ocupa a América Latina na disputa comercial e tecnológica entre EUA e China? Que desafios e oportunidades se apresentam para a região nas relações com a China em termos de comércio e investimentos? Como superar a dependência da matriz primário-exportadora e ascender nas cadeias globais de valor? Qual o lugar da América Latina na administração Biden nos EUA em termos da segurança e da geopolítica regional e global? Como fica a integração regional sul-americana diante dessas mudanças? Quais as chances para um processo de integração autônomo e soberano, com resultados sociais e ambientais positivos para as sociedades latino-americanas?
  • Desigualdades e desafios sociais: Quais impactos sociais sofre a América Latina com a pandemia do coronavírus? Que desafios se colocaram para a garantia dos direitos econômicos e sociais? Que novas formas de desigualdades surgem ou foram acirradas com a pandemia? Como se reconfigura o mundo do trabalho? Como enfrentar o crescente endividamento? Qual o papel dos Estados nacionais na recuperação econômica e social no período pós-pandemia?
  • Mesa de encerramento: O Futuro do Desenvolvimento na América Latina

O seminário terá cinco dias de programação, que contará com uma mesa de abertura e uma mesa de encerramento, além de quatro mesas-redondas de debates em torno das temáticas e perguntas acima propostas. As mesas terão como convidados membros da academia, sociedade civil e organizações internacionais.

Ao final do seminário será editada e publicada uma coletânea, na forma de e-book, que reunirá os debates apresentados nas conferências de abertura e encerramento, e nas mesas-redondas.

Comissão Organizadora:
Ana Garcia – BRICS Policy Center, IRI/PUC-Rio
Maria Elena Rodriguez – Núcleo Interdisciplinar de Estudos Iberoamericanos, PUC-Rio
Pablo Ospina – Universidad Andina Simón Bolívar, Equador
Paulo Esteves – Mestrado Profissional em Análise e Gestão de Política Internacional, IRI/PUC-Rio
Isa Mendes – Núcleo Interdisciplinar de Estudos Iberoamericanos, PUC-Rio

Núcleo Curador | Instituto de Relações Internacionais/PUC-Rio:
Luis Manuel Fernandes – Diretor
Monica Herz – Professora titular
Andrea Hoffmann – Coordenadora Pós-Graduação
Manuela Trindade – Coordenadora Graduação

Equipe Técnica | BRICS Policy Center:
Lia Frota – Coordenadora administrativa
Luana Oliveira – Assistente administrativa


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