Seminário 2015.1: O papel do gênero na sociedade global: teoria e prática

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06 Mai
08 Mai

O evento busca reunir uma multiplicidade de diferentes perspectivas sobre o entrelaçamento entre questões de gênero, a sociedade e a política contemporâneas, tanto em âmbito nacional quanto internacional. O objetivo, com isso, é seguir rumo a um maior entendimento sobre as diferentes dinâmicas que perpassam as vivências humanas nas bases de toda a política que é feita — mais especificamente o lugar ocupado pelo corpo humano e pelos papeis sociais a este associados.

É fundamental aproximar gênero das discussões de Relações Internacionais para que se possa trazer perspectivas críticas sobre relações sociopolíticas e ampliar o entendimento sobre estas, tendo em vista questões que estão tomando cada vez mais proeminência nas áreas sociais e acadêmicas e agregando cada vez mais ao debate. Enquanto um campo de conhecimento multidisciplinar e multifacetado, os Estudos de Gênero abrangem categorias de análise que se sobrepõem e se cruzam, formando um verdadeiro caldeirão de perspectivas e é necessário disponibilizar aos alunos e ao público em geral o que há de mais recente no debate. Tão importante quanto isso é formar cidadãos com consciência sobre temas que envolvem o bem-estar social de segmentos que vêm há muito sendo ignorados. 

Como inúmeros estudos vêm mostrando desde o século XX, questões de gênero fazem parte da fundação de todas as relações humanas, uma vez que gênero é a primeira coisa a se perceber sobre alguém e vem há muito sendo fator determinante de lugares sociais a serem 
ocupados por esses ou aqueles indivíduos, bem como aquilo que é importante ou desimportante, o que interessa ou não interessa para a política. Gênero molda pautas políticas e acadêmicas, dita comportamentos aceitáveis e inaceitáveis, e determina quem tem acesso ao poder. Desmascarar essas questões, que normalmente são pressupostas e tidas como inquestionáveis, é um primeiro passo para a compreensão de dinâmicas de dominação entre diferentes classes e segmentos.

Este evento terá cinco objetivos específicos: 1. trazer perspectivas que formam os fundamentos dos estudos de gênero, e em particular as contribuições para a disciplina de Relações Internacionais; 2. endereçar as principais possibilidades de se pensar gênero em contextos internacionais, especialmente aqueles que fogem do âmbito Ocidental; 3. aproximar os alunos das pautas de diversos movimentos sociais no Brasil e na América Latina, assim como introduzir pontos chave acerca das políticas públicas de gênero no Brasil; 4. apresentar perspectivas críticas que desconstroem o papel dos homens e das crianças em situações de conflito, assuntos que ainda pouco são explorados em suas complexidades e contradições; e 5. introduzir estudos de contestação da heteronormatividade, ou seja, a pressuposição compulsória sobre identidade de gênero e orientação sexual e como isso afeta a política brasileira e internacional.

Programação

1º dia: Teoria e prática nas relações internacionais

9:00-9:30: Boas vindas e entrega do prêmio Gerson Moura

9:30-11:00 – Painel 1: Experiências Masculinas e de Crianças em Situação de Conflito (em parceria com a Global South Unit for Mediation – GSUM)
O painel tem como objetivo discutir experiências masculinas e de crianças em situações de guerra. No caso das experiências masculinas, o painel busca explorar a participação de homens não como soldados, mas como vítimas de violência contra o gênero (aniquilação, violência sexual, recrutamento forçado) e, principalmente, analisar como há um silenciamento dessas experiências. Ao mesmo tempo, busca-se discutir a experiência de crianças em conflitos armados, desde o envolvimento direto como combatente, até o desempenho de outras atividades também ligadas aos grupos armados oficiais ou não (cozinheiro, por exemplo), e sobretudo, como vítima de diversas formas de violência. O painel se mostra necessário uma vez que traz assuntos ainda pouco discutidos no âmbito da disciplina de Relações Internacionais, apesar destes constituírem uma realidade no cenário internacional que impacta a vida de milhares de pessoas que vivem em situações de conflito armado. 
Mediadora: Monica Herz (IRI/PUC –Rio e GSUM)
Jana Tabak (IRI/PUC-Rio) – Against the Norm: Child-Soldiers as an International Emergency
David Rosen (Fairleigh Dickinson University) – Patriots and Victims: Gender and the Iconography of Child Soldiers
Paula Drumond (Graduate Institute of International and Development Studies) – Embodied Battlefields: Uncovering Sexual Violence against Men in War Theaters
Adam Jones (UBC Okanagan) – Worlding Men: A Conceptual and Humanitarian Perspective on Men and Boys of the Global South

11:30-13:30: Painel 2: Gênero em perspectiva: experiências de gênero no cenário internacional 
Esse painel reunirá pesquisadoras e ativistas que lidam com diferentes questões de gênero, seja em suas pesquisas ou através da participação em movimentos sociais. Pretende-se discutir de que forma a questão de gênero afeta uma gama de conflitos internacionais e como podem ser articuladas diferentes interpretações a cerca da experiência de gênero. 
Mediadora: Paula Sandrin (IRI/PUC-Rio)
Marcia Nina Bernardes (Direito/PUC-Rio) – Aspectos transnacionais da luta contra a violência doméstica contra a mulher
Renata Giannini (IRI/ PUC-Rio e Instituto Igarapé) – Proteção e empoderamento: uma abordagem integral para eliminar a violência baseada em gênero em conflitos
Diana Aguiar (Transnational Institute) – Movimentos feministas transnacionais: estratégias diversas e dilemas sobre o lugar da política
Grazielle Costa (UFF) – O outro lado da história: contribuições e limites dos pioneiros estudos de gênero nas relações internacionais
Sonia Beatriz dos Santos (UERJ e Criola) – Movimentos Transnacionais de Mulheres Negras: Uma Perspectiva de Gênero e Raça

2º dia: Teoria e prática no Brasil e América Latina

9:00 – 11:00 – Painel 3: O Gênero no âmbito das Políticas Públicas Brasileiras
Este painel se dispõe a trazer uma perspectiva nacional dentro do debate de Gênero das Relações Internacionais, visando trabalhar o espaço no qual estamos inseridos, trazendo uma visão prática do tema. Trabalhar e repensar as políticas públicas brasileiras sobre as questões de gênero é essencial para compreender e destrinchar a política externa sobre o tema.
Mediadora: Ana Delgado (IRI/PUC-RIO)
Clara Maria de Oliveira Araújo (UERJ) – Perspectiva de gênero nas políticas públicas brasileiras: o feminismo e as tensões sobre maternalismo, empoderamento e autonomia
Sarah Reis (UnB) – Políticas de Igualdade de Gênero: uma análise a partir dos estudos de Nancy Fraser
Ana Claudia Pereira (UERJ) – a confirmar

11:30-13:30 – Painel 4: Movimentos Sociais Feministas na América Latina: pautas e lutas
Essa mesa se destina a traçar um panorama das principais pautas e lutas dos movimentos sociais feministas da América Latina, mapeando as conquistas, as dificuldades e os desafios para concretizar avanços no que diz respeito a direitos das mulheres, democratização de espaços públicos e a eliminação de desigualdades e opressões cotidianas. 
Mediadora: Claudia Fuentes (IRI/PUC-Rio)
Miriam Nobre (Secretariado Internacional – Marcha Mundial das Mulheres) – Aportes do feminismo latino americano na construção de um movimento internacional: agenda e processos organizativos da Marcha Mundial das Mulheres
Clarisse Goulart Paradis (UFMG) – Despatriarcalização do Estado, da sociedade, dos corpos: um debate sobre a luta política feminista na América Latina
Irene Léon (FEDAEPS Equador) – Utopías, paradojas y construcción procesual de Estados sin patriarcado en América Latina y el Caribe
Patricia Rangel (USP) – Ativismo feminista, feminismo estatal e direitos políticos das mulheres: Argentina, Brasil e Chile
Francisca Rodriguez (Associação Nacional de Mulheres Rurais e Indígenas do Chile – ANAMURI) – Las mujeres del Campo construyendo feminismo Campesino y Popular

3º dia: Para além dos feminismos

09:00 – 11:00 – Painel 5: Contestações da heteronormatividade
Este painel tem como objetivo apontar os locais onde são perpetuadas pressuposições compulsórias de papeis de gênero e sexualidade e as consequências de tais pressuposições nos contextos sociais e políticos, em âmbito nacional e internacional.
Mediadora: Marta Fernandez (IRI/PUC-Rio)
Carla Rodrigues (UFRJ) – Homofobia e diferença sexual: para além do medo
Jaqueline Gomes de Jesus (FGV- RJ e UNIPLAN – DF) – Desgenerificação no Racismo e no Sexismo
Leonardo Peçanha (Instituto Brasileiro de Transmasculinidades – IBRAT) – Sexualidade pra quem? Casais trans heterossexuais e a heteronorma

11:30 – 13:30 – Palestra: Spike Peterson (University of Arizona) – How (the Meaning of) Gender Matters: Personally, Politically, Internationally

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