Mesa-debate discute como as práticas universitárias reproduzem e questionam o racismo

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No último dia 23, foi realizada a mesa-debate “Racismo, Branquitude e Universidade”, uma parceria entre o Coletivo Nuvem Negra (CNN) e o Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio (IRI/PUC-Rio), que recebeu Natany Luiz, membro do CNN e aluna do IRI/PUC-Rio, Lourenço Cardoso, professor adjunto na Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab), e Fransérgio Goulart, Historiador e membro do Fórum Social de Manguinhos (FSM).

O historiador Fransérgio Goulart deu início à mesa com a pergunta “vocês já ouviram falar na palavra branquitude?”. Branquitude é o lugar privilegiado de onde o branco vê o outro, é como os brancos constroem uma imagem que não é a sua, e “o fim do racismo é impossível sem o fim da branquitude” – frase de um texto de Ronilso Pacheco, aluno de Teologia da PUC-Rio e membro do CNN. Fransérgio também questionou sobre o que chamou de “fetiche” em pesquisar as favelas, em comparação com a quase ausência de estudos sobre a elite e os brancos. Para ele, é necessário enfrentar a questão, que passa por ir além do simples reconhecimento do privilégio, em direção a práticas que contribuam, inclusive materialmente, para o fim da branquitude.

Natany Luiz prosseguiu o debate ao falar sobre como o racismo se expressa a partir da Universidade e as suas diversas facetas. Ela destacou a ausência de intelectuais negros nos programas dos cursos universitários e como essa estrutura acadêmica é criada por pessoas brancas e para pessoas brancas. Diante esse cenário, surgiu o Coletivo Nuvem Negra, que é uma potência autônoma de estudantes negras e negros da PUC-Rio que reconhecem a necessidade de uma articulação comum, compartilham a resistência, o afeto e o fortalecimento negro dentro e fora da universidade e que buscam amplificar temas e discussões pertinentes ao povo negro através de discussões, intervenções, ações culturais e debates públicos dentro e fora da universidade.

O professor Lourenço Cardoso explicou a relação entre racismo, branquitude e universidade. Segundo ele, a universidade é um lugar onde os brancos se sentem bem, e ao invés disso, deveria ser um pluriuniverso, um lugar onde todos vivam bem. O racismo é constatado na universidade através da desigualdade social e da desigualdade racial, que é sempre vista como uma desvantagem para o negro e nunca uma vantagem para o branco. Assim, o branco sempre aparece, mas escondido. Estudamos a história do Brasil que é, na verdade, a história do branco. 

Com mediação de Bruna Silva, do IRI/PUC-Rio, o evento lotou a sala K117 e teve a presença dos alunos do projeto “Juventude e Oportunidade”, sediado no Centro de Educação e Formação Profissional do Caju, que oferece cursos técnicos a jovens, e escolaridade básica para adultos que não conseguiram concluir os estudos. A discussão fomentada pelas intervenções e pelo debate posterior contribuiu muito para uma reflexão acerca de como a universidade precisa ser repensada e das potencialidades para se continuar a fazer dela um espaço de resistência diante das múltiplas formas de desigualdade, em especial do racismo.

Para assistir o vídeo do evento na íntegra, clique aqui. Se preferir o áudio, aqui.

Foto: Aline Da Mata

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