Modalidades de Guerra no Cotidiano

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O Instituto de Relações Internacionais (IRI/PUC-Rio) realizou, entre os dias 4 e 6 de Setembro de 2019, o seminário Modalidades de Guerra no Cotidiano: a circulação de práticas de segurança em perspectiva local e global.

Diante de um quadro cada vez mais marcado por índices preocupantes de violência urbana, a intensificação do poder de fogo e o aprimoramento tático da força pública são reivindicados como necessidades políticas incontornáveis em nosso período contemporâneo, este evento inseriu-se nesse contexto e buscou estimular discussões sobre a forma com que modalidades de guerra estão presentes em nosso cotidiano, bem como os efeitos dessa presença.

Para tal, o Seminário reuniu acadêmicos internacionais especializados em estudos sobre as transformações da guerra. Os participantes foram mobilizados em debates estruturados em três eixos principais. No primeiro, os painelistas buscaram localizar o Rio de Janeiro nas transformações históricas da violência e no mapa da circulação global de modalidades de guerra. Já o segundo eixo voltou-se à investigação dos efeitos locais da circulação de modalidades de guerra, bem como à reflexão sobre a manifestação cotidiana da presença dessas formas de guerra. Por fim, os participantes foram encorajados a se debruçar sobre os painéis dos dias anteriores e analisarem as implicações desses debates para o repertório teórico-conceitual no campo dos Estudos de Segurança, bem como para a forma com que entendemos o problema da militarização e o lugar do Sul Global – mais especificamente, do Rio de Janeiro – nessa seara.

O Seminário Internacional teve início em 4 de setembro, com o painel “As estruturas da guerra: modernidade, capitalismo, violência e suas transformações na política contemporânea”, com a participação de Matt Davies (New Castle, IRI PUC Rio), Marildo Menegat (NEPP-DH, UFRJ) e Philippe Bonditti (Université Catholique de Lille), sob a moderacão da Professora Monica Herz (IRI PUC-Rio). Buscando contribuir para as reflexões sobre circulação global de modalidades de guerra e suas configurações locais, os participantes deste painel exploraram os elementos estruturantes dessas dinâmicas. Dito de outro modo, como modalidades de guerra são estruturadas global e localmente? Que condições históricas estão ligadas às transformações da estruturação de modalidades de guerra? De que forma as transformações históricas na circulação de modalidades de guerra estão ligadas a rearticulações da violência na política internacional?

Em seguida, Anna Leander (IRI PUC Rio; Graduate Institute of Geneva), Monica Herz (IRI/PUC Rio) e Paulo Pereira (PUC SP) integraram o painel “As circulações globais de modalidades de guerra”, com a moderação de Jana Tabak (UERJ). Nessa ocasião, os participantes refletiram sobre as formas e os efeitos concretos de modalidades de guerra no período contemporâneo, discutindo as articulações discursivas e mecanismos por meio dos quais tais práticas circulam globalmente e explorando os contrastes e/ou conexões entre modalidades de guerra e processos globais de reorganização da violência.

Marcia Leite (UERJ), Bruno Cardoso (UFRJ) e Arlene Tickner (Universidad del Rosario) iniciaram os trabalhos no segundo dia do Seminário (5 de setembro), com o painel “O global é aqui: crise e configurações locais de modalidades de guerra”, com a moderação de Manuela Trindade Viana (IRI PUC-Rio). Aqui, a cidade foi o palco central dos debates. Partindo da provocação de que a mobilização da ideia de “crise” tem catalisado e aprofundado práticas de vigilância, controle, poder de fogo e proteção humanitária em diversas cidades do mundo, os participantes deste painel discutiram aspectos como formas concretas que modalidades de guerra adquirem em locais específicos; como o discurso de “crise” afeta práticas de segurança pública no Sul Global; e as conexões e/ou contrastes entre essa mobilização da “crise” e a profusão de modalidades de guerra nas cidades.

No quato painel realizado, Jana Tabak (UERJ) buscou engajar Cynthia Enloe (Clark University), Victoria Basham (Cardiff University), e Vera Malaguti (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) em uma discussão sobre como as modalidades de guerra moldam nossas rotinas. Com o título “Normalização da violência cotidiana em defesa da sociedade”, as participantes do referido painel refletiram sobre os termos com base nos quais nós viemos a, tão frequentemente, normalizar a violência em defesa da sociedade em nosso cotidiano.

O quinto e último painel do Seminário Internacional consistiu em uma mesa-redonda formada por Pinar Bilgin (Bilkent University), João Pontes Nogueira (IRI/PUC Rio) e Nivi Manchanda (Queen Mary University of London). Com estimulantes provocações de Philippe Bonditti (Université Catholique de Lille), os participantes da mesa “Quão críticos são os estudos críticos de segurança?” foram sabatinados a respeito de suas visões sobre três temas: i) os limites da “criticalidade” e de conceitos-chave nos chamados “estudos críticos de segurança”; ii) os vícios analíticos resultantes da reprodução de perspectivas teóricas do Norte no Sul Global; e iii) como perspectivas teóricas do Sul Global podem contribuir para os estudos críticos de segurança em Relações Internacionais.

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